quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

VITAMINA D: UM HORMÔNIO FUNDAMENTAL

VITAMINA D: HORMÔNIO!



Você sabia que a Vitamina D é na verdade um hormônio?

         Ela é encontrada sob duas formas: ergocalciferol (vitamina D2) e colecalciferol (vitamina D3). A vitamina D2 é encontrada nas plantas e fungos, e a vitamina D3 vem de fontes animais, além de ser sintetizada na pele pela ação dos raios ultravioleta B (UVB). Quando os raios UVB entram em contato com as células da pele, ocorre a conversão de um derivado do colesterol, o 7-deidrocolesterol, em vitamina D3.

               Se você andou tomando sol em excesso e agora ficou apreensivo com medo de uma possível intoxicação por vitamina D, fique tranquilo, a natureza é sábia, e criou um mecanismo que só converte uma quantidade segura de 7-deidrocolesterol em vitamina D3. O excesso é em metabólitos inativos! Ufa!

          A Vitamina D então é encaminhada ao fígado onde sofre uma alteração química, recebe uma molécula de hidroxila (OH), gerando o calcidiol, que é a forma de depósito da vitamina D, e é o que se dosa de rotina nos exames de laboratório.
               O calcidiol é levado para os rins onde ocorre nova hidroxilação, formando o calcitriol, que é a forma metabolicamente ativa da vitamina D. O Calcitriol é o responsável pelas importantes ações da vitamina D.

            Para que os níveis de vitamina D ativa estejam normais é necessário que intestino, pele, fígado e rins trabalhem corretamente.


AÇÕES DA VITAMINA D

              

A primeira coisa que vem à mente ao se pensar em vitamina D é saúde óssea. Sua ação na mineralização óssea e controle dos níveis de cálcio é conhecida há décadas. A deficiência da vitamina D leva a osteoporose, raquitismo na criança e osteomalácia nos adultos, problemas graves que afetam os ossos.
Mas a vitamina D vai muito além da saúde óssea. Atualmente sabe-se que ela regula a expressão de mais de 1.000 genes em células em diversos tecidos e órgãos!

            Estudos epidemiológicos mostram que a deficiência de vitamina D se associa a diversos problemas de saúde. Este tipo de estudo mostra que há uma coincidência entre a maior frequência de algumas doenças e a falta da vitamina D, mas NÃO prova que é a baixa na vitamina a CAUSA destas doenças. Para chegarmos a essa conclusão outros tipos de estudos científicos (clínicos e experimentais) são necessários.

As seguintes patologias estão ASSOCIADAS ao déficit de vitamina D:

diabetes melito tipo 1
asma
dermatite atópica
alergia alimentar
doença inflamatória intestinal
artrite reumatoide
doença cardiovascular
esquizofrenia
depressão
diversos tipos de câncer (mama, próstata, pâncreas, cólon)


FONTES


Quando falamos de vitaminas, logo pensamos em uma lista de alimentos ricos nessa ou naquela. Com a vitamina D a coisa é um pouco diferente, já que na verdade ela também é um hormônio produzido pela pele (veja Post anterior).
Cerca de 90% da vitamina D vem da produção na pele após exposição solar e menos de 10% são obtidos de alimentos. 

Os alimentos mais ricos em vitamina D, como o salmão selvagem, sardinha, cavala, atum e óleo de fígado de bacalhau (eca!) em geral não são parte da alimentação rotineira dos brasileiros. O salmão consumido no Brasil vem de fazendas de piscicultura e tem apenas ¼ da vitamina D presente no salmão selvagem (de águas geladas, encontrados no Alaska e países nórdicos).

Alguns alimentos que fazem parte da dieta do brasileiro, como o fígado de boi, iogurte e gema de ovo, contém pequenas quantidades de vitamina D, insuficiente para a nossa saúde.

Com tanto sol no Brasil, por décadas os médicos não se preocupavam com os níveis de vitamina D da população. Atualmente, entretanto o brasileiro tem se exposto cada vez menos ao sol e a deficiência da vitamina D tornou-se frequente tanto em crianças como em adultos.

A quantidade de sol para garantir um bom aporte de vitamina D varia com diversos fatores. Em média 15 minutos diários de sol seriam suficientes.
Alguns fatores reduzem a produção de vitamina D pela pele:

Pele escura: a melanina absorve os raios solares UVB, funcionando como um protetor solar natural.
Latitude: quanto mais longe da linha do Equador pior a produção.
Altitude elevada
Uso de roupas que cubram quase todo o corpo
Poluição atmosférica
Tempo predominantemente nublado
Uso constante de filtro solar

Tomar sol é importante, mas devemos ficar de olho no horário em que estaremos expostos. Excesso de sol, principalmente entre 10 e 16h aumenta o risco de câncer de pele além de causar envelhecimento.
Equilíbrio é tudo!


NÍVEIS NORMAIS


Para saber como está o nível de vitamina D, é preciso dosar o Calcidiol (a vitamina D que sofreu uma hidroxilação no fígado).

Existem algumas controvérsias sobre o ponto de corte do que é considerado como Suficiente, Insuficiente e Deficiente, de acordo com 3 diferentes sociedades.
A “Endocrine Society Clinical Practice Guideline” é a mais “exigente” e coloca como suficiente valores (em ng/ml) entre 30 e 100, insuficiente entre 20 e 30 e deficiente valores abaixo de 20.

Alguns autores consideram que níveis acima de 20 já seriam suficientes, já que do ponto de vista ósseo só ocorreriam alterações abaixo deste valor. Já outra corrente considera que o “ideal” seria deixar a vitamina D acima de 40 e até 80, justificando que esses valores são fundamentais para as funções extra-ósseas mencionadas acima.

Como a toxicidade da vitamina D se manifesta a partir de 100 a 150, não é arriscado deixa-la em níveis mais elevados do que o mínimo, mas também não há comprovação dos benefícios.



DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D


O raquitismo é a forma grave da deficiência da vitamina D mais conhecido do público em geral. Mas bem antes que o quadro clínico de Raquitismo se instale, níveis baixos de vitamina D já trazem prejuízo para a saúde.
Algumas consequências da hipovitaminose D são:

Redução da absorção intestinal de cálcio e fósforo
Elevação do paratormônio (PTH) que tira cálcio do osso para deixar normal o nível de cálcio no sangue
Queda da mineralização óssea
Atraso do crescimento
Atraso do desenvolvimento
Irritabilidade
Dores ósseas
Unhas e cabelos frágeis
Sudorese, principalmente na cabeça
Queda dos níveis sanguíneos de cálcio e fósforo.



COMO MANTER NÍVEIS ÓTIMOS DA VITAMINA D?


Depois de saber a importância de se manter a vitamina D normal no organismo, logo surge o questionamento: É melhor tomar sol ou usar medicamentos?


O ideal seria que todo mundo tomasse sol diariamente antes das 10h da manhã. Mas não é isso que ocorre na prática. Então quando é preciso utilizar medicamentos? Para tratamento da deficiência (comprovada por exame) e em alguns grupos de risco como profilaxia (para evitar que a deficiência se instale).

No Brasil existem 12 marcas com apresentações em gotas (200UI/gota), cápsulas e comprimidos com dose que varia entre 1000 e 50.000UI. Os esquemas de tratamento também variam, de acordo com a idade e necessidade individual. É possível fazer doses diárias ou semanais.

A terapia com doses elevadas (stoss-therapy) de vitamina D é utilizada em situações excepcionais. São administradas doses muito altas de vitamina D, (oral ou intramuscular), por curtos períodos de tempo. Existe o risco de intoxicação pela própria vitamina D e pelo veículo propilenoglicol quando forem usadas soluções orais de vitamina D que contenham esse produto.

A profilaxia (utilizar para evitar a deficiência) da vitamina D nas doses de 400 UI/dia para menores de 1 ano e 600 UI/dia para maiores é indicada para:

 Crianças em aleitamento materno exclusivo.
 Crianças em uso de fórmula láctea fortificada com vitamina D que ingerem um volume menor que 1000 mL/dia.
Crianças e adolescentes que não ingerem pelo menos 600 UI de vitamina D/dia na dieta.
Crianças e adolescentes que não se exponham ao sol regularmente

Em outros casos a suplementação é feita com doses maiores, 600-1800 UI/dia: nos grupos de risco citados acima, além de gestantes, nutrizes, pessoa com dieta estritamente vegetariana, obesidade, doenças que afetem o fígado, rins e intestinos, além de uso crônico de alguns medicamentos (anticonvulsivantes, drogas para HIV, glicocorticoides, antifúngicos).


HIPERVITAMINOSE D

Se depois de ler os Posts sobre vitamina D da semana passada, te deu vontade de já ir comprando um suplemento... Para tudo!

O excesso de vitamina D é perigoso.



A hipervitaminose D leva a aumento do cálcio sanguíneo (hipercalcemia) e urinário e redução do paratormônio (PTH). A intoxicação pela vitamina D surge quando os níveis no sangue são superiores a 100 ng/mL.

O paciente apresenta os seguintes sintomas: náuseas, vômitos, dor abdominal, obstipação intestinal, pedra nos rins, urina em excesso, fraqueza, contrações musculares, dificuldade de concentração, confusão mental e pode chegar até ao coma.

Se a hipercalcemia for grave pode desencadear arritmia cardíaca, e quando o excesso de cálcio é crônico, ocorre deposição de cálcio nas válvulas cardíacas, artérias coronárias e fibras miocárdicas; levando a hipertensão e cardiomiopatia. 

O tratamento da Hipervitaminose D é feito com suspensão da reposição da vitamina, hidratação venosa, diuréticos e corticosteroides.


Não se arrisque utilizando medicações sem o devido acompanhamento!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

MELATONINA: Hormônio do sono.

A Melatonina é conhecida como o Hormônio do sono. É sintetizada a partir do aminoácido triptofano e derivada da serotonina. Sua produção ocorre na glândula pineal, um pequeno órgão em forma de pinha ou grão, com 5 mm de diâmetro, localizada no meio do cérebro.

Diferentemente dos hormônios que são parte do eixo hipotálamo-hipofisário (veja texto sobre o Sistema endócrino), a produção de melatonina não está sujeita ao famoso mecanismo de feedback tradicional, quando a própria produção do hormônio se autorregula.

A melatonina é regulada pela luz! O ciclo de luminosidade dia versus noite dita o ritmo de produção desse hormônio, sendo que o pico é alcançado de noite.  

AÇÕES DA MELATONINA

Além de ser um regulador do ritmo circadiano, a Melatonina tem várias ações impressionantes: é antioxidante, interfere na plasticidade e sobrevivência dos neurônios, além de inibir a formação de corpos amiloides, placas de proteína que são prejudiciais ao cérebro típicas da doença de Alzheimer.

É importante saber que o ritmo circadiano não se refere apenas ao ciclo de sono e vigília, mas também a ciclo de vários hormônios e funcionamento do metabolismo. A sensibilidade à insulina, por exemplo, se modifica ao longo do dia (umas das razões que faz difícil o tratamento dos diabéticos)! 


A ausência ou redução na produção de melatonina provoca distúrbios metabólicos e alterações dos ritmos do organismo que acabam intensificando uns aos outros num ciclo vicioso, cuja consequência é resistência insulínica, intolerância à glicose, dislipidemia e obesidade!

A melatonina é hoje considerada como um fator hormonal anti-obesidade. Ela regula as etapas do balanço energético: Ingestão alimentar, Acúmulo de energia e gasto energético.

Reduz a fome e regula a produção e secreção dos hormônios: insulina, glucagon e cortisol, levando a aumento da massa e a atividade do tecido adiposo marrom (gordura do “bem”, que gasta energia) e aumentando o escurecimento (browning) do tecido adiposo branco. Essas ações levam ao aumento do gasto energético.

Atualmente a Melatonina tem sido indicada para tratamento de várias condições clínicas. Mas antes de encomendar seu pote de melatonina sintética, lembre-se que a regulação da síntese de melatonina é feita pela luz! O excesso de luz artificial durante a noite pode bloquear, completamente, até, (dependendo de sua intensidade e comprimento de onda, principalmente a luz azul de 480 nm), a síntese de melatonina pineal!

INDICAÇÕES DA REPOSIÇÃO DA MELATONINA

Sabendo de suas importantes funções, a melatonina tem sido usada como um coadjuvante terapêutico em diversas situações:

1 – Distúrbios do sono, principalmente o Jat-leg.
2 - Doenças neurológicas e degenerativas (Espectro autista, síndrome de déficit de atenção e hiperatividade).
3 – Enxaqueca.
4 – Depressão.
5 – Adjuvante no tratamento do câncer.
6 – Limitador de lesões pós-isquêmicas (AVC, displasia broncopulmonar).
7 – Doenças metabólicas.
8 – Síndrome dos Ovários Policísticos.

Até parece panaceia! Mas não é! O uso indiscriminado pode ser danoso, e há formas não medicamentosas de se regular a Melatonina! 

Depois de aprender sobre as funções da Melatonina, dá vontade de tomar, não é verdade?  Mas é bom ficar claro que a Melatonina não é panaceia, não é um simples indutor “natural” do sono! 

Ela é um hormônio com ações complexas e seu uso ainda está em fase de pesquisa para a maioria das indicações. Ainda faltam estudos de efetividade e segurança.  Um ponto a mencionar é que os produtos encontrados no mercado com menor dosagem contêm 1 miligrama do hormônio, isso é entre duas e cinco vezes a quantidade que o corpo produz durante as 24 horas! 

Já se sabe que a reposição de melatonina pode atrapalhar o ciclo reprodutivo feminino, mas as repercussões do excesso de dose e do uso no longo prazo ainda são uma incógnita. 


Sabendo da importância da Melatonia e que o principal desregulador de sua produção é o excesso de luz, principalmente a azul, tem surgido filtros para aparelhos eletrônicos, e até o intrigante e polêmico “óculos para melatonina”! Os defensores do uso de óculos laranja acreditam que eles possam bloquear certos comprimentos de onda de luz que são emitidos por telas eletrônicas. Alguns poucos estudos mostram bons resultados, mas ainda não é um consenso que seu uso seja realmente efetivo.

Nem a reposição de melatonina nem o uso dos óculos laranja estão livre de controvérsias! Mas a moderação nos hábitos de vida, ah isso sim faz toda a diferença! Não faz sentido ficar de óculos laranja plugado em tablets, TV de Led e smartphones  até de madrugada e então tomar um tablete de Melatonina! 

É importante reduzir as horas de exposição a aparelhos eletrônicos à noite, usar telas menores, escurecê-la e mantê-la o mais distante possível dos olhos. E então ir dormir no escurinho!