quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

VITAMINA D: UM HORMÔNIO FUNDAMENTAL

VITAMINA D: HORMÔNIO!



Você sabia que a Vitamina D é na verdade um hormônio?

         Ela é encontrada sob duas formas: ergocalciferol (vitamina D2) e colecalciferol (vitamina D3). A vitamina D2 é encontrada nas plantas e fungos, e a vitamina D3 vem de fontes animais, além de ser sintetizada na pele pela ação dos raios ultravioleta B (UVB). Quando os raios UVB entram em contato com as células da pele, ocorre a conversão de um derivado do colesterol, o 7-deidrocolesterol, em vitamina D3.

               Se você andou tomando sol em excesso e agora ficou apreensivo com medo de uma possível intoxicação por vitamina D, fique tranquilo, a natureza é sábia, e criou um mecanismo que só converte uma quantidade segura de 7-deidrocolesterol em vitamina D3. O excesso é em metabólitos inativos! Ufa!

          A Vitamina D então é encaminhada ao fígado onde sofre uma alteração química, recebe uma molécula de hidroxila (OH), gerando o calcidiol, que é a forma de depósito da vitamina D, e é o que se dosa de rotina nos exames de laboratório.
               O calcidiol é levado para os rins onde ocorre nova hidroxilação, formando o calcitriol, que é a forma metabolicamente ativa da vitamina D. O Calcitriol é o responsável pelas importantes ações da vitamina D.

            Para que os níveis de vitamina D ativa estejam normais é necessário que intestino, pele, fígado e rins trabalhem corretamente.


AÇÕES DA VITAMINA D

              

A primeira coisa que vem à mente ao se pensar em vitamina D é saúde óssea. Sua ação na mineralização óssea e controle dos níveis de cálcio é conhecida há décadas. A deficiência da vitamina D leva a osteoporose, raquitismo na criança e osteomalácia nos adultos, problemas graves que afetam os ossos.
Mas a vitamina D vai muito além da saúde óssea. Atualmente sabe-se que ela regula a expressão de mais de 1.000 genes em células em diversos tecidos e órgãos!

            Estudos epidemiológicos mostram que a deficiência de vitamina D se associa a diversos problemas de saúde. Este tipo de estudo mostra que há uma coincidência entre a maior frequência de algumas doenças e a falta da vitamina D, mas NÃO prova que é a baixa na vitamina a CAUSA destas doenças. Para chegarmos a essa conclusão outros tipos de estudos científicos (clínicos e experimentais) são necessários.

As seguintes patologias estão ASSOCIADAS ao déficit de vitamina D:

diabetes melito tipo 1
asma
dermatite atópica
alergia alimentar
doença inflamatória intestinal
artrite reumatoide
doença cardiovascular
esquizofrenia
depressão
diversos tipos de câncer (mama, próstata, pâncreas, cólon)


FONTES


Quando falamos de vitaminas, logo pensamos em uma lista de alimentos ricos nessa ou naquela. Com a vitamina D a coisa é um pouco diferente, já que na verdade ela também é um hormônio produzido pela pele (veja Post anterior).
Cerca de 90% da vitamina D vem da produção na pele após exposição solar e menos de 10% são obtidos de alimentos. 

Os alimentos mais ricos em vitamina D, como o salmão selvagem, sardinha, cavala, atum e óleo de fígado de bacalhau (eca!) em geral não são parte da alimentação rotineira dos brasileiros. O salmão consumido no Brasil vem de fazendas de piscicultura e tem apenas ¼ da vitamina D presente no salmão selvagem (de águas geladas, encontrados no Alaska e países nórdicos).

Alguns alimentos que fazem parte da dieta do brasileiro, como o fígado de boi, iogurte e gema de ovo, contém pequenas quantidades de vitamina D, insuficiente para a nossa saúde.

Com tanto sol no Brasil, por décadas os médicos não se preocupavam com os níveis de vitamina D da população. Atualmente, entretanto o brasileiro tem se exposto cada vez menos ao sol e a deficiência da vitamina D tornou-se frequente tanto em crianças como em adultos.

A quantidade de sol para garantir um bom aporte de vitamina D varia com diversos fatores. Em média 15 minutos diários de sol seriam suficientes.
Alguns fatores reduzem a produção de vitamina D pela pele:

Pele escura: a melanina absorve os raios solares UVB, funcionando como um protetor solar natural.
Latitude: quanto mais longe da linha do Equador pior a produção.
Altitude elevada
Uso de roupas que cubram quase todo o corpo
Poluição atmosférica
Tempo predominantemente nublado
Uso constante de filtro solar

Tomar sol é importante, mas devemos ficar de olho no horário em que estaremos expostos. Excesso de sol, principalmente entre 10 e 16h aumenta o risco de câncer de pele além de causar envelhecimento.
Equilíbrio é tudo!


NÍVEIS NORMAIS


Para saber como está o nível de vitamina D, é preciso dosar o Calcidiol (a vitamina D que sofreu uma hidroxilação no fígado).

Existem algumas controvérsias sobre o ponto de corte do que é considerado como Suficiente, Insuficiente e Deficiente, de acordo com 3 diferentes sociedades.
A “Endocrine Society Clinical Practice Guideline” é a mais “exigente” e coloca como suficiente valores (em ng/ml) entre 30 e 100, insuficiente entre 20 e 30 e deficiente valores abaixo de 20.

Alguns autores consideram que níveis acima de 20 já seriam suficientes, já que do ponto de vista ósseo só ocorreriam alterações abaixo deste valor. Já outra corrente considera que o “ideal” seria deixar a vitamina D acima de 40 e até 80, justificando que esses valores são fundamentais para as funções extra-ósseas mencionadas acima.

Como a toxicidade da vitamina D se manifesta a partir de 100 a 150, não é arriscado deixa-la em níveis mais elevados do que o mínimo, mas também não há comprovação dos benefícios.



DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D


O raquitismo é a forma grave da deficiência da vitamina D mais conhecido do público em geral. Mas bem antes que o quadro clínico de Raquitismo se instale, níveis baixos de vitamina D já trazem prejuízo para a saúde.
Algumas consequências da hipovitaminose D são:

Redução da absorção intestinal de cálcio e fósforo
Elevação do paratormônio (PTH) que tira cálcio do osso para deixar normal o nível de cálcio no sangue
Queda da mineralização óssea
Atraso do crescimento
Atraso do desenvolvimento
Irritabilidade
Dores ósseas
Unhas e cabelos frágeis
Sudorese, principalmente na cabeça
Queda dos níveis sanguíneos de cálcio e fósforo.



COMO MANTER NÍVEIS ÓTIMOS DA VITAMINA D?


Depois de saber a importância de se manter a vitamina D normal no organismo, logo surge o questionamento: É melhor tomar sol ou usar medicamentos?


O ideal seria que todo mundo tomasse sol diariamente antes das 10h da manhã. Mas não é isso que ocorre na prática. Então quando é preciso utilizar medicamentos? Para tratamento da deficiência (comprovada por exame) e em alguns grupos de risco como profilaxia (para evitar que a deficiência se instale).

No Brasil existem 12 marcas com apresentações em gotas (200UI/gota), cápsulas e comprimidos com dose que varia entre 1000 e 50.000UI. Os esquemas de tratamento também variam, de acordo com a idade e necessidade individual. É possível fazer doses diárias ou semanais.

A terapia com doses elevadas (stoss-therapy) de vitamina D é utilizada em situações excepcionais. São administradas doses muito altas de vitamina D, (oral ou intramuscular), por curtos períodos de tempo. Existe o risco de intoxicação pela própria vitamina D e pelo veículo propilenoglicol quando forem usadas soluções orais de vitamina D que contenham esse produto.

A profilaxia (utilizar para evitar a deficiência) da vitamina D nas doses de 400 UI/dia para menores de 1 ano e 600 UI/dia para maiores é indicada para:

 Crianças em aleitamento materno exclusivo.
 Crianças em uso de fórmula láctea fortificada com vitamina D que ingerem um volume menor que 1000 mL/dia.
Crianças e adolescentes que não ingerem pelo menos 600 UI de vitamina D/dia na dieta.
Crianças e adolescentes que não se exponham ao sol regularmente

Em outros casos a suplementação é feita com doses maiores, 600-1800 UI/dia: nos grupos de risco citados acima, além de gestantes, nutrizes, pessoa com dieta estritamente vegetariana, obesidade, doenças que afetem o fígado, rins e intestinos, além de uso crônico de alguns medicamentos (anticonvulsivantes, drogas para HIV, glicocorticoides, antifúngicos).


HIPERVITAMINOSE D

Se depois de ler os Posts sobre vitamina D da semana passada, te deu vontade de já ir comprando um suplemento... Para tudo!

O excesso de vitamina D é perigoso.



A hipervitaminose D leva a aumento do cálcio sanguíneo (hipercalcemia) e urinário e redução do paratormônio (PTH). A intoxicação pela vitamina D surge quando os níveis no sangue são superiores a 100 ng/mL.

O paciente apresenta os seguintes sintomas: náuseas, vômitos, dor abdominal, obstipação intestinal, pedra nos rins, urina em excesso, fraqueza, contrações musculares, dificuldade de concentração, confusão mental e pode chegar até ao coma.

Se a hipercalcemia for grave pode desencadear arritmia cardíaca, e quando o excesso de cálcio é crônico, ocorre deposição de cálcio nas válvulas cardíacas, artérias coronárias e fibras miocárdicas; levando a hipertensão e cardiomiopatia. 

O tratamento da Hipervitaminose D é feito com suspensão da reposição da vitamina, hidratação venosa, diuréticos e corticosteroides.


Não se arrisque utilizando medicações sem o devido acompanhamento!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

MELATONINA: Hormônio do sono.

A Melatonina é conhecida como o Hormônio do sono. É sintetizada a partir do aminoácido triptofano e derivada da serotonina. Sua produção ocorre na glândula pineal, um pequeno órgão em forma de pinha ou grão, com 5 mm de diâmetro, localizada no meio do cérebro.

Diferentemente dos hormônios que são parte do eixo hipotálamo-hipofisário (veja texto sobre o Sistema endócrino), a produção de melatonina não está sujeita ao famoso mecanismo de feedback tradicional, quando a própria produção do hormônio se autorregula.

A melatonina é regulada pela luz! O ciclo de luminosidade dia versus noite dita o ritmo de produção desse hormônio, sendo que o pico é alcançado de noite.  

AÇÕES DA MELATONINA

Além de ser um regulador do ritmo circadiano, a Melatonina tem várias ações impressionantes: é antioxidante, interfere na plasticidade e sobrevivência dos neurônios, além de inibir a formação de corpos amiloides, placas de proteína que são prejudiciais ao cérebro típicas da doença de Alzheimer.

É importante saber que o ritmo circadiano não se refere apenas ao ciclo de sono e vigília, mas também a ciclo de vários hormônios e funcionamento do metabolismo. A sensibilidade à insulina, por exemplo, se modifica ao longo do dia (umas das razões que faz difícil o tratamento dos diabéticos)! 


A ausência ou redução na produção de melatonina provoca distúrbios metabólicos e alterações dos ritmos do organismo que acabam intensificando uns aos outros num ciclo vicioso, cuja consequência é resistência insulínica, intolerância à glicose, dislipidemia e obesidade!

A melatonina é hoje considerada como um fator hormonal anti-obesidade. Ela regula as etapas do balanço energético: Ingestão alimentar, Acúmulo de energia e gasto energético.

Reduz a fome e regula a produção e secreção dos hormônios: insulina, glucagon e cortisol, levando a aumento da massa e a atividade do tecido adiposo marrom (gordura do “bem”, que gasta energia) e aumentando o escurecimento (browning) do tecido adiposo branco. Essas ações levam ao aumento do gasto energético.

Atualmente a Melatonina tem sido indicada para tratamento de várias condições clínicas. Mas antes de encomendar seu pote de melatonina sintética, lembre-se que a regulação da síntese de melatonina é feita pela luz! O excesso de luz artificial durante a noite pode bloquear, completamente, até, (dependendo de sua intensidade e comprimento de onda, principalmente a luz azul de 480 nm), a síntese de melatonina pineal!

INDICAÇÕES DA REPOSIÇÃO DA MELATONINA

Sabendo de suas importantes funções, a melatonina tem sido usada como um coadjuvante terapêutico em diversas situações:

1 – Distúrbios do sono, principalmente o Jat-leg.
2 - Doenças neurológicas e degenerativas (Espectro autista, síndrome de déficit de atenção e hiperatividade).
3 – Enxaqueca.
4 – Depressão.
5 – Adjuvante no tratamento do câncer.
6 – Limitador de lesões pós-isquêmicas (AVC, displasia broncopulmonar).
7 – Doenças metabólicas.
8 – Síndrome dos Ovários Policísticos.

Até parece panaceia! Mas não é! O uso indiscriminado pode ser danoso, e há formas não medicamentosas de se regular a Melatonina! 

Depois de aprender sobre as funções da Melatonina, dá vontade de tomar, não é verdade?  Mas é bom ficar claro que a Melatonina não é panaceia, não é um simples indutor “natural” do sono! 

Ela é um hormônio com ações complexas e seu uso ainda está em fase de pesquisa para a maioria das indicações. Ainda faltam estudos de efetividade e segurança.  Um ponto a mencionar é que os produtos encontrados no mercado com menor dosagem contêm 1 miligrama do hormônio, isso é entre duas e cinco vezes a quantidade que o corpo produz durante as 24 horas! 

Já se sabe que a reposição de melatonina pode atrapalhar o ciclo reprodutivo feminino, mas as repercussões do excesso de dose e do uso no longo prazo ainda são uma incógnita. 


Sabendo da importância da Melatonia e que o principal desregulador de sua produção é o excesso de luz, principalmente a azul, tem surgido filtros para aparelhos eletrônicos, e até o intrigante e polêmico “óculos para melatonina”! Os defensores do uso de óculos laranja acreditam que eles possam bloquear certos comprimentos de onda de luz que são emitidos por telas eletrônicas. Alguns poucos estudos mostram bons resultados, mas ainda não é um consenso que seu uso seja realmente efetivo.

Nem a reposição de melatonina nem o uso dos óculos laranja estão livre de controvérsias! Mas a moderação nos hábitos de vida, ah isso sim faz toda a diferença! Não faz sentido ficar de óculos laranja plugado em tablets, TV de Led e smartphones  até de madrugada e então tomar um tablete de Melatonina! 

É importante reduzir as horas de exposição a aparelhos eletrônicos à noite, usar telas menores, escurecê-la e mantê-la o mais distante possível dos olhos. E então ir dormir no escurinho!  

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

SONO

Alimento, água, oxigênio e SONO! 
São fundamentais para a nossa sobrevivência. Sono é vital! Passamos em torno de um terço da nossa vida dormindo.
A maioria de nós concorda que ter uma boa noite de sono é importante para nossa saúde e bem estar, mas poucas pessoas priorizam o sono. Muita gente, no corre-corre quotidiano se acostuma a viver com uma certa privação de sono que já nem se lembra como é sentir-se realmente descansado após uma noite de sono reparador.

FASES DO SONO

    É durante o sono que o corpo cansado reorganiza seus sistemas para um novo dia. A imunidade é reforçada, células são renovadas, radicais livres são neutralizados, e aprendizado e memória são consolidados.

O sono é dividido em duas fases com cinco estágios. Os últimos 3 estágios se alternam enquanto dormimos, resultando em ciclos com cerca de 90 a 120 minutos.
 
  As fase do sono são: REM (do inglês Rapid Eye Movement =Movimento Rápido dos Olhos) e NREM, não-REM.  A fase NREM corresponde a 75% do período do sono, e é dividida em quatro estágios:
     
    Estágio 1: Sonolência. Dura em média 15 minutos, corresponde àquele momento em que a pessoa ainda não está realmente dormindo. Os músculos relaxam, a respiração torna-se mais suave e os olhos movimentam-se de forma aleatória. Esse estágio só se repete se a pessoa for acordada e voltar a dormir.

    Estágio 2: Sono leve. Dura em média de 5 a 15 minutos. A atividade cardíaca é reduzida, os músculos relaxam e a temperatura do corpo cai. É bem mais difícil de despertar o indivíduo. 

    Estágio 3: Início do sono profundo. Dura cerca de 40 min. no primeiro ciclo do sono e é menor a cada novo ciclo. É o momento em que o cérebro trabalha de forma mais intensa transformando informações temporárias em dados permanentes, com enfoque para reter memórias visuais acumuladas durante o dia.

    Estágio 4: Sono muito profundo. Dura em torno de 40 min. primeiro ciclo do sono e é menor a cada novo ciclo. A atividade cerebral se mantém em ritmo acelerado, as memórias continuam a ser gravadas no córtex e o organismo promove processos como a cicatrização de ferimentos. Despertar alguém nesse estágio é muito difícil.

É na fase NREM que se dá o descanso profundo do corpo e há secreção de hormônio de crescimento.
     

O quinto estágio é o sono REM, um período com características muito peculiares e quando sonhamos! Ele também é conhecida como sono paradoxal, já que, apesar de estarmos com a musculatura paralisada, os olhos (como o próprio nome da fase indica) e cérebro estão em franca atividade! Esta fase Dura cerca de três minutos no primeiro ciclo e vai aumentando nos ciclos seguintes.

Na fase REM os neurônios que transmitem os impulsos responsáveis pelos movimentos são bloqueados. Em outras palavras, durante os sonhos o corpo está temporariamente paralisado. Esta é uma estratégia interessante que evita que nos machuquemos! Já pensou se fossemos executar de verdade os movimentos que fazemos nos sonhos?

Assim como nas fases 3 e 4, as informações continuam a ser sedimentadas. Na fase REM o foco são as informações relacionadas a tarefas que requerem habilidade, como tocar um instrumento musical. As memórias visuais recentes são fixadas utilizando de associações entre informações recentes e antigas.
As histórias e situações aparentemente aleatórias ou sem sentido que surgem nos sonhos são resultado da articulação entre experiências recentes e fragmentos da memória. É nosso cérebro organizando as informações por meio de associações. Humor, criatividade, atenção, memória e equilíbrio estão intimamente ligados a essa fase.

Sonhar é uma atividade do inconsciente, e a lembrança do sonho só fica disponível no consciente se acordamos até 10 minutos após termos sonhado. Muitas pessoas experimentam o chamado “sonho lúcido” na qual tem consciência de que estão sonhando e controlam suas atividades no desenrolar do sonho. Existem técnicas para estimular este tipo de sonho, o que segundo algumas correntes de meditação, estaria relacionada a uma maior autoconsciência.
Embora a fase do REM não resulte em um descanso profundo, ela é fundamental para a recuperação emocional.

HORAS DE SONO


A figura acima mostra quantas horas é recomendado dormir para cada faixa etária, de acordo com as últimas pesquisas científicas! E então, você está dentro do recomendado? E mais importante, se sente totalmente descansado quando acorda?

Uma pesquisa publicada em 2016 na revista “Advances Science” mostra a duração média de sono em 20 países. O Brasil está em terceiro lugar no ranking de menor tempo de sono noturno, 7h36min, atrás apenas do Japão (7h30 min) e Cingapura (7h24min). No outro extremo, estão os holandeses, os mais dorminhocos, com uma média de 8h16min de sono.

A duração do sono observada está relacionada com o horário de ir pra cama (bedtime na foto). Os horários médios de ir pra cama no Japão, Brasil e Cingapura são 23h30, 23h40 e 23h50, respectivamente. Quanto mais tarde se vai dormir, menos se dorme! Existe uma pressão social para ficarmos acordados até tarde, mas o relógio biológico tenta nos acordar cedo, no meio tempo, uma parcela do sono é sacrificada.

A pesquisa também mostrou que mulheres costumam dormir mais que os homens, e que quem passa a maior parte do tempo acordada sob a luz do sol  tendem a ir para a cama mais cedo.

 Tradicionalmente as pesquisas que envolvem o sono costumam ser feitas em ambientes controlados de laboratório, nada a ver com o dia a dia conturbado que vivemos. Já esta pesquisa tem uma metodologia muito interessante, ela utilizou de um aplicativo para Smartphones chamado Entrain, criado em 2014 para ajudar pessoas com problemas de jet lag (confusão de fusos horários).

 A falta de sono aumenta o risco de distúrbios emocionais e físicos, incluindo obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.


CONSEQUÊNCIAS DA PRIVAÇÃO DO SONO



Quem nunca se obrigou a ficar acordado até mais tarde pra terminar um trabalho ou ver mais um episódio daquela série preferida que atire a primeira pedra! Mas repensar nossos hábitos é necessário para uma vida mais saudável!

Sono é saúde! Sua privação traz sérias consequências:

No curto prazo leva a cansaço e sonolência durante o dia, irritabilidade, mudanças repentinas de humor, perda da memória recente, redução da criatividade, dificuldade motora, lentidão do raciocínio, desatenção, dificuldade de concentração, culminando em maior risco de acidentes.

No longo prazo aumenta o risco de: Obesidade, Diabetes, Envelhecimento precoce, Fraqueza muscular, Enfraquecimento do sistema imunológico, Doenças cardiovasculares e gastro-intestinais, além de perda crônica da memória.
Certamente ninguém quer esses riscos aumentados para si! Algumas dicas para dormir bem são: praticar exercícios físicos, ter um horário para ir pra cama, fazer um ritual relaxante antes deste horário, deixe seu quarto acolhedor para o sono (temperatura, som, escuridão, colchão, travesseiros). Esteja atento para ladrões de sono: álcool, cafeína e eletrônicos.

E o mais importante: faça do sono uma prioridade! Tenha o sono como uma atividade com hora marcada, não deixe o sono para depois que você resolver tudo! Pare as atividade para simplesmente DORMIR! Sua saúde agradece!

SONO E CRESCIMENTO


    Quantas vezes dizemos aos nossos filhos: "Menino, vai dormir, se não você não cresce"! Essa frase é um clássico dos pais. Mas crianças e adolescentes não nos dão muita importância. Por isso, os pais devem impor horários para as crianças irem para a cama e não permitirem que os filhos tenham horas insuficientes de sono.

  Cerca de 90% do Hormônio do Crescimento (GH) é produzido e liberado no  organismo durante o sono das crianças, principalmente, durante a noite.
    Para ser exata, cerca de 30 minutos após o adormecimento, com maior produção a partir das 22 horas, até às seis da manhã.

     Por isso, crianças que dormem pouco além de apresentarem prejuízos na memória, irritabilidade, menor concentração
e dificuldades de aprendizado, podem ter déficit de crescimento.

E para aqueles que dizem compensar a pouca quantidade de sono noturna, dormindo toda a manhã ou com as sonecas vespertinas, sinto dizer que, dormir de dia não produz o mesmo efeito, já que vários hormônios seguem ritmos circadianos (aqueles que respondem ao ciclo da luz e da escuridão), e que o pico do hormônio cortisol (glicocorticóide natural) ocorre ao amanhecer e, uma vez liberado no organismo, atrapalha a ação do GH. Nada repõe o sono noturno! 


    SONO E DIABETES??
    

 Parece estranho, mas existe sim uma relação entre a qualidade do sono e diabetes! Pesquisadores da Universidade de Chicago demonstraram que dormir menos de 5 horas por noite leva a um risco aumentado de desenvolvimento de pré-diabetes e diabetes!

 A partir de 3 noites com déficit de sono já foram notadas alterações em diversos exames! Houve redução na secreção de GH (hormônio do crescimento), aumento dos ácidos graxos e noradrenalina no sangue, levando a um prejuízo na ação da insulina!

No curto prazo observa-se elevação da glicemia para níveis de pré-diabetes, e a longo prazo Diabetes!

 Sono de qualidade e em boa quantidade é essencial para a prevenção e controle do diabetes!

Os mecanismos para explicar essa relação envolvem ainda hormônios que controlam o apetite e saciedade!


SONO E OBESIDADE


Pra resumir: dormir pouco ou dormir mal aumenta o risco de obesidade. Como isso acontece?

A falta de sono reparador altera hormônios que regulam as sensações de fome e saciedade. Ao mesmo tempo ocorrem duas mudanças endócrinos capazes de alterar significativamente a ingestão alimentar: a diminuição do hormônio leptina e o aumento do hormônio grelina.

A Leptina é um hormônio produzido pelo tecido gorduroso e tem efeito anorexígeno (tira a fome). Já a Grelina é um hormônio produzido pelo estômago e hipotálamo e tem efeito orexígeno (aumenta a fome).

Algumas evidências mostram que a privação de sono aumenta não somente o apetite, como também a preferência por alimentos mais calóricos! E isso é literalmente “juntar a fome com a vontade de comer”!
Além dos efeitos no apetite, a sonolência durante o dia resulta em fadiga menor disposição para a prática de atividade física.

Está claro que um padrão adequado de sono é fundamental para o controle do peso!

Depois de tudo isso... me deu vontade de dormir! :-)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Sistema Endócrino: organização e funções!

SISTEMA ENDÓCRINO

A palavra Endocrinologia se origina do grego “ENDO”= que vem de interno, “KRINO” = secretar, e “LOGOS” = de estudo. Literalmente Endocrinologia o estudo das secreções internas.
Secreções internas conhecidas como Hormônios! Palavra derivada do grego “HORMON” =o que coloca em movimento, impulso, estímulo.
O Sistema Endócrino clássico é composto pelas glândulas mostradas na figura ao lado. A característica de uma glândula endócrina é secretar hormônios diretamente na corrente sanguínea, diferente das glândulas ditas “exócrinas” que possuem um sistema de ductos para conduzir suas secreções (ex: glândulas salivares, sudoríparas, digestivas).

O sistema endócrino é o grande mensageiro do organismo tendo papel fundamental na comunicação celular. Os hormônios informam às células como está o meio interno, e o objetivo final desta comunicação é o equilíbrio do corpo. Este estado de equilíbrio interno do corpo é chamado de homeostase.
O sistema endócrino integra as informações e interfere em praticamente tudo! É importante para: proliferação e diferenciação celular, crescimento, comportamentos, metabolismo, sono, digestão, humor, lactação, reprodução, percepção sensorial!
Os hormônios possuem múltiplas funções e formas de ação, e o mesmo hormônio pode ter diferentes efeitos dependendo de em qual órgão ou tecido está agindo. Além de se autorregular, o sistema endócrino interfere e sofre interferências importantes do sistema nervoso e imunológico.

Se não bastasse tanta complexidade, o sistema Endócrino não se restringe às glândulas clássicas mostradas na figura! A cada ano novos hormônios são descobertos, secretados por órgãos que pertencem a outros sistemas. Também secretam hormônios: pele, tecido adiposo, músculos, fígado, rins!
Eu costumo brincar que um órgão só está completo, quando se descobre que este secreta algum hormônio!

FUNÇÕES

A função primordial do sistema endócrino é integrar o organismo para garantir a homeostase (equilíbrio interno). Os hormônios funcionam como mensageiros, que levam o recado da célula que o produziu até órgãos e tecidos que podem estar muito distantes! 

A glândula endócrina secreta seu hormônio para o sangue, e uma vez na corrente sanguínea, o hormônio tem acesso a todo o corpo! Mas já que cada hormônio tem ações diferenciadas e em células específicas, como é possível que uma substância secretada em quantidade muito pequena consiga encontrar seu alvo? 

Vejam como o organismo é inteligente: o hormônio só age nas células que tenham um receptor específico para ele! O receptor é uma parte da célula alvo que se encaixa no hormônio, um esquema tipo chave e fechadura. E assim, dentre bilhões de células, o hormônio encontra seu par.

Depois que o hormônio se liga ao seu receptor, a célula é avisada que deve produzir uma resposta fisiológica. Por exemplo: quando o hormônio de crescimento (GH) se liga nas células do fígado a mensagem é: produza IGF1 que fará a criança crescer! Quando o mesmo GH se liga na célula muscular a mensagem é: sintetize mais músculo! E assim por diante...

Algumas vezes os hormônios podem ter ação na célula vizinha e não é preciso percorrer a circulação sanguínea, é a chamada ação “parácrina”, e outras vezes o hormônio age na própria célula que o produziu, é a ação “autócrina”!

Garantir respostas fisiológicas adequadas a cada situação é tarefa complexa que envolve todos os sistemas. É como uma orquestra, onde cada órgão desempenha um papel para a harmonia final!

ORGANIZAÇÃO

O sistema Endocrino tem uma organização e tanto!
Para que os hormônios cheguem a agir em seus tecidos alvos, muita comunicação teve de ocorrer antes entre o sistema Nervoso e Endócrino. 

Em termos gerais funciona assim: a região do cérebro chamada Hipotálamo manda sinais que estimulam ou inibem a glândula Hipófise, está por sua vez manda seu recado para as outras glândulas. Já as glândulas informam ao sistema Hipotálamo-Hipófise a quanto anda a sua produção hormonal, num sistema chamado de “feedback”, onde o próprio hormônio inibe as substâncias que o estimulam.

O hipotálamo é uma parte fundamental do nosso sistema nervoso central, ele controla o sistema nervoso autônomo (funções fisiológicas inconscientes), a temperatura do corpo, sensações de sede fome e saciedade, interfere nas emoções e comportamentos, regula os estados de consciência e ritmos circadianos (ciclo de vigília e sono).

A hipófise e considerada a glândula “Mãe ou Mestre”, já que seus hormônios ditam o funcionamento de outras glândulas.
Ela é composta por duas partes distintas: anterior (ou Adeno-hipofise) e posterior (ou Neuro-hipofise). Cada parte é responsável por funções diferenciadas.
A Adeno-hipófise produz os hormônios que controlam o funcionamento de outras glândulas endócrinas, enquanto a Neuro-hipófise armazena e secreta hormônios produzidos pelos neurônios do hipotálamo.

 A comunicação entre Hipotálamo e Hipófise é muito peculiar. Não é necessário que as substâncias caiam na circulação sanguínea geral. Existe uma delicada e fina rede de vasos sanguíneos que liga Hipotálamo diretamente à Hipófise (sistema porta), garantindo um ajuste fino da produção hormonal! 

Essa fisiologia é linda! Tudo concorrendo para um equilíbrio constante, nem demais, nem de menos. Quando há desequilíbrio as doenças endócrinas aparecem.


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